Sobre um tema que dá pano pra manga…
O conceito de que padrões oclusais sejam fatores causais de padrões posturais corporais não é unanimidade. Aparentemente os estudos que rechaçam essa hipótese estão pautados em critérios metodológicos mais rigorosos e imparciais. Dispomos até de algumas revisões sistemáticas colocam em xeque essa relação, incluindo questões como DTM e morfologia cranio facial:
- Perinetti G et al. The diagnostic potential of static body-sway recording in orthodontics: a systematic review. Eur J Orthod. 2013 Oct;35(5):696-705.
- Rocha CP, Croci CS, Caria PH. Is there relationship between temporomandibular disorders and head and cervical posture? A systematic review. J Oral Rehabil. 2013 Nov;40(11):875-81.
- Gomes Lde C, Horta KO, Gonçalves JR, Santos-Pinto AD. Systematic review: craniocervical posture and craniofacial morphology. Eur J Orthod. 2014 ;36(1):55-66.
E essas duas últimas são de autores brasileiros \o/ #pubmedverdeeamarela 😀
Geralmente as pesquisas que chegam a conclusão que postura corporal e oclusão dentária estabelecem relação, se detêm em um único parâmetro oclusal e um único parâmetro postural em populações não representativas e são estudos transversais. Apresentam ainda ausência de grupo controle, ausência de examinadores cegos e utilizam instrumentos de medida cuja validade não foi comprovada (validação de método).
Outro ponto a ser considerado é o fato da idade ser fator de confusão na avaliação postural, visto que a postura apresenta padrões característicos em diferentes faixas etárias, e esse aspecto não foi devidamente controlado nos estudos que afirmam a associação.
E porque confiar mais em resultados de uma publicação do que nos de outra? Muitos aspectos devem ser considerados na avaliação crítica de um artigo, mas rapidamente… Ouçam essa música (amooo!) e prestem atenção nessas três perguntas…
No último número do Jornal da SBDOF foi publicada uma resenha que fiz sobre um artigo de revisão com esse enfoque e publicado em 2012 pelo Prof Daniele Manfredini e colaboradores. Caso você se interesse pelo tema, sugiro que procure fazer a leitura do artigo original.
Um outra revisão da Profa Ambra Michelotti e cols recomenda que pacientes não sejam submetidos a tratamentos oclusais (especialmente se irreversíveis e caros) para tratar ou prevenir alterações posturais.
Michelotti A et al. Dental occlusion and posture: an overview. Prog Orthod. 2011;12(1):53-8.
Por tudo que li e diante de tantas contestações pertinentes, não digo para os pais dos meus pacientes que alterando a oclusão vou influenciar na postura corporal da criança… Se amanhã estudos mais consistentes aparecerem e confirmarem essa associação de forma plausível, eu mudo meu discurso.
Particularmente não tenho interesse em “acreditar” nessa ou naquela vertente. Creio que nosso compromisso deve ser com o conhecimento científico que apresente o melhor nível de evidências. Simples assim…
Vamos seguir estudando!! 😀
Ué… mas na internet tem um monte de figuras tipo essa do post que mostram exatamente isto!!! E dizem que segundo um tal de Bricot, ou Planas, ou Rocabado, ou … isso é uma verdade absoluta… a ponto de influenciar até uma especialidade odontológica (a OFM, eu acho!)… fiquei confuso, com o dizia o “macaco”… “eu só queria entender”!
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Muitos replicam essa informação sem sequer saber que há contestação a respeito dela, JL! Gd abç
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Não aos anafabetos do seculo XXI
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Quem não consegue acompanhar a Ciência está fadado a ser isolado, Vera.. Bj!
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Sempre contestaremos. E independente de todos os trabalhos que evidenciam ou que não evidenciam, jamais, jamais deixaremos de pensar observar e sermos humildes nos diagnósticos.
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Isso mesmo, Vânia! O processo do aprendizado é constante p todos nós… gd abç!
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